Guto Jimenez
Foto: Ivan Shupikov
SKATE FEMININO: ONTEM, HOJE E SEMPRE, por Guto Jimenez.
Atualmente, o skate feminino atravessa o seu período de maior popularidade em todos os tempos. O grande público ao redor do planeta pode acompanhar as maiores disputas de street e park pela rede ou em emissoras de tevê, contando com meninas e mulheres de países de quase todo o mundo. Pra muita gente, isso é uma novidade...
Como assim?! Na real, a presença feminina no skate sempre se fez presente, pelo menos pra mim. Sou da primeira geração de skatistas, aqueles que começaram em meados da década de 70, e posso afirmar sem hesitação: elas sempre estiveram lá, nas sessões e nos eventos. Ok, eram em menor número, mas estavam lá – com o estilo e a graça que faltam à maioria de nós, homens. Hoje em dia, é muito comum vermos meninas e mulheres participando de sessões nas ruas, nos skateparks e nas ladeiras por aí, mas nem sempre foi assim. Na verdade, sendo bem honesto, a história do skate deve muito mais à presença feminina do que a gente é capaz de se dar conta. No entanto, basta prestar atenção à “linha do tempo” do skateboarding e constatar que “as minas” merecem dividir o protagonismo com “os caras”.
Só pra você ter uma ideia, a primeira pessoa a ser associada ao skate foi uma mulher, isso lá em meados dos anos 60: a norte-americana Patti McGee foi capa da revista Life Magazine, uma das mais populares em todo o mundo na época. A foto dela de cabeça pra baixo num handstand é uma das imagens mais icônicas de todos os tempos, e fez com que ela se transformasse numa das primeiras skatistas profissionais da história. A matéria trouxe outro fato histórico: pela primeira vez, uma publicação da grande mídia se referia aos praticantes como “skateboarders” (skatistas), ao invés do termo “sidewalk surfers” (surfistas de calçada) usado até então. Patti não só apareceu ao grande público – ela também ajudou na fixação de nossa própria identidade. Na moral, não é pouca coisa não!
Mais adiante, nos anos 70, as revistas traziam imagens de meninas como Laura Thornhill, Ellen O’Neal e Cindy Whitehead mandando ver no freestyle, em transições e até mesmo em ladeiras. Além dessas, tinham também a Peggy Oki, que fazia parte da equipe Zephyr-Dogtown, e a Judi Oyama, que andava pela Santa Cruz e Independent e chegou a ganhar campeonatos de downhill. O speed e o freestyle foram as primeiras modalidades a terem provas exclusivamente femininas, já que tinha um bom número de praticantes pra se organizar as disputas.
Nos anos 80, o grande nome do cenário feminino foi a Cara-beth Burnside, que começou a construir uma carreira longa e vitoriosa naquela década. Ela foi a primeira skatista a assinar um modelo de tênis pela Vans e, mais adiante, se transformou numa personalidade também no snowboard, onde ganhou vários campeonatos e assinou diversos produtos. Já nos anos 90, foi a Elissa Steamer quem inspirou meninas no mundo inteiro com as suas partes de vídeo, nas quais ela mandava manobras pesadas que deixavam a todos de queixo caído. Nesse século, a presença feminina em eventos exclusivos foi se ampliando até chegarmos ao estágio atual, no qual as principais competições têm a mesma premiação tanto pra homens quanto pra mulheres.
Também na atualidade, uma mulher alcançou a maior façanha competitiva em todos os tempos. Em 2018, a norte-americana Emily Pross ganhou a principal disputa de uma prova do circuito mundial de downhill nas Filipinas, competindo em condições de igualdade contra os homens. Aliás, não foi contra quaisquer homens: ela superou ninguém menos que os campeões mundiais Carlos Augusto Paixão e Thiago Gomes Lessa na bateria final. Sabe aquele papo de “elas nunca vão ter a mesma performance do que os homens”?! Pois é, ficou obsoleto!
Aqui no Brasil, a história do skate feminino se deve muito à presença e força de vontade de algumas mulheres que deixaram as suas marcas e tiveram uma importância enorme na formação do nosso cenário. O primeiro nome de destaque é o da paulista Monica Polistchuk, que estava sempre presente nos campeonatos de vertical e freestyle e que dá os seus roles em transições até hoje; ela é sem dúvidas a “madrinha” de todas as skatistas que surgiram depois dela. Em meados dos anos 80, a carioca Ana de Carvalho se sagrou campeã brasileira de freestyle amador competindo entre os homens, e provavelmente foi a primeira a conseguir tal feito aqui no país. Também naquela década surgiu ninguém menos do que Miriam Belloni, a “Mirinha”, que dominava as competições femininas de downhill slide. Na real, ela andava tanto que tinham muitos homens que ficavam aliviados por ela não correr no masculino – porque, se rolasse, ela teria deixado muitos nomes de destaque pra trás...
A partir dos anos 90, foi ficando cada vez mais comum de vermos meninas e mulheres nas sessões de street, não só andando como também produzindo material de mídia. Foi aqui no Brasil que foi editada a primeira revista especializada em skate feminino, a “Check It Out Girls”, e a virada do século começou a projetar alguns nomes no cenário mundial, casos de Karen Jones (bicampeã mundial de vert) e da Renata Paschini, que foi vice-campeã mundial da modalidade. Mais ou menos na mesma época, três mulheres começaram a se destacar nas ladeiras: Christie Aleixo, Laura Alli e Reine Oliveira participaram de competições de DHS e speed no Brasil e lá fora. Pra mim, elas são as “Rainhas Magas” das ladeiras brasileiras, tanto pelo que fizeram nos dropes quanto por tudo o que agilizaram pelo cenário.
Falando em ladeiras, foi justamente num dos melhores dropes do país que rolou um evento exclusivo de downhill feminino no início desse ano. O Workshop Dazminas aconteceu em Timburi, no interior de SP, e reuniu duas das melhores skatistas de velocidade dos dias de hoje, que participaram de palestras, clínicas e de muitos dropes. Uma delas foi a já citada Emily Pross; a outra foi a brasileira Vitória Mallmann, atual vice-campeã mundial e que tem o título de tricampeã brasileira na sua história. O coletivo Dazminas está sacudindo o cenário nesses tempos de pandemia, através de workshops virtuais com algumas das figuras de destaque do skate de ladeira brasileiro, e mostra que veio pra ficar.
Falando em “veio pra ficar”, o que mais eu posso dizer sobre o skate feminino? A AFS (Associação Feminina de Skate) organizou no final do ano passado o maior evento exclusivamente feminino em todos os tempos, que teve impressionantes 185 inscritas disputando nas transições e obstáculos da Skatepark do Corinthians. Pra mim, foi uma honra e um privilégio sem tamanho ter colaborado com a locução e ter visto meninas e mulheres de todas as idades e estilos na competição. Méritos totais pra Renatinha Paschini, Taíse Araújo e todas as “minas” da entidade, que realizaram um dos melhores eventos nos quais eu já trabalhei na vida.
Em nossas vidas, as mulheres são protagonistas. São elas que dão a vida a todos nós, simples assim. Então por que teria de ser diferente justamente no skate? Nada a ver. Palmas pra todas as mulheres, skatistas ou não, vocês merecem!
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