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Foto de: Cecilia Gonçalves por: Ivan Shupikov

Quando ganhei um skate no aniversário de 14 anos, pensei que era um brinquedo qualquer. Quase como um pula pula, e que o objetivo seria me manter o maior tempo possível em cima dele. Depois comecei a ver gente descendo ruas ou fazendo curvas, como se estivesse surfando. Covarde assumida, qualquer grau mais íngreme que 10, tipo um salto anabela, já me apavorava. Agachar em movimento? Nem pensar. Portanto, quando fui ao Ibirapuera ver uma sessão de skate pela primeira vez, me senti como um macaco que batia com a flauta na panela. Sabia que era um instrumento musical, mas achava que era uma baqueta. O que vi no freestyle foi uma sinfonia, uma forma superior de manifestação artística. Essa primeira impressão me surpreende até hoje, não só quando alguém anda muito, mas qualquer pessoa que se aventure a dropar pela primeira vez, ou começar a remar e dar umas batidas me dá o mesmo sopro de vida. Fora o talento dos Ibiraboys, outro aspecto evidente é que o skate é - e sempre foi - inclusivo. Tinha gente de todas as cores, classes sociais, sexos, idades, circunferências e gostos musicais. A única coisa desencorajada é tentar ser o que você não é. Pra isso não tem remédio. A primeira mulher que vi andar e, por muito tempo, a única, foi a Monica Polistchuk. E no vertical! Não foi uma surpresa, tamanha a diversidade dos praticantes. Os meninos davam dicas, equipamentos e o que pudessem para ajudá-la.

Sempre houve respeito pelas meninas e nunca vi qualquer prova de machismo como, honestamente, não vejo até hoje. As mulheres sempre orbitaram em volta do skate, seja andando ou, como eu, admirando o que, pra mim, é sobre humano. Lembro da Aninha, uma carioca freestyler das boas. A Meire, irmã do Maurinho da Anarquia... Não eram muitas, mas representavam a categoria com classe. Nos anos 90 foram surgindo outras, como a Karen Feitosa e a Giuliana Ricomini. Mais tarde, a Renatinha e minha nega Karen Jones no vert e a Bia Sodré no street, que conseguia reunir mulheres suficientes para algumas baterias exclusivamente femininas em campeonatos. O downhill também chegou ao nível profissional, com a Reine e a Christie. Hoje temos as Vitórias Mendonça e Bortolo, a Letícia, a Fadinha e um monte de fodonas que superam muitos homens na perícia e sinto que este número vai crescer cada vez mais. Todas são acolhidas, respeitadas e incentivadas pela comunidade masculina. Na mídia, também, sempre tivemos nosso lugar. Eu, a Eliana Lopes, Jussara Solla, Liza Araújo, Helga Simões, Andréa Ramos, Tânia, Diana Bouth, Dirce Melo, Grazi Oliveira e muitas outras narraram, filmaram e fotografaram o skate, algumas até hoje. O skate está acima de racismo, machismo, feminismo ou qualquer divisão que rime com essas. É de todo mundo e não é de ninguém. Mais ou menos como amor de mãe. Bom, pelo menos o meu é assim.