História

Em 1982, meu primeiro shape já era grande e minhas primeiras transições no concreto, half pipes ainda balançavam, nem sempre com plataformas. Agora toda essa cena não era bem vista pela sociedade e escutar Ramones era sinal de rebeldes, caso perdido . Hoje Ramones é som de vários desenhos animados para crianças e skate de crime virou cool. Ainda somos poucas, mas a porcentagem de garotas nas ruas e pistas já aumentou e a cada ano aumenta, não só a quantidade mas o nível técnico, e essa não é uma cena só no Brasil mas global. Eu dou esse crédito a todas as skatistas que divulgaram, dedicaram seu tempo e amor ao skate sem espera de remuneração ou destaque. Hoje vejo mulheres que já estão no skate há mais de 20 anos e trabalham com a nova geração, e o resultado disso só pode ser positivo. Deixo aqui o registro da minha experiência com skate e de outras 6 skatistas de diferentes idades e modalidades para que percebam um pouco da luta e da evolução na história do skate feminino brasileiro. X Let’s ride

Monica Polistchuk

Ivan Shupikov

Era uma vez uma pista de skate chamada Wave Cat... Sim, o tema é skate feminino, mas tudo tem um início; pra minha sorte, eu morava a alguns quarteirões de distância da Wave Cat, e foi lá onde o meu caminho com o skateboard se iniciou, em 1981. Assim como achei algumas garotas que curtiram skate em 75 e 76, também tive a sorte de fazer amizade com a Lígia Silva, que já andava de skate nessa época. Adorava ir chama-la de manhã e, enquanto aguardava ela se arrumar e tomar café, eu tinha a oportunidade de imergir nas revistas gringas que ela tinha e poder ver fotos da Ellen O’Neal (RIP), Vick Vickers e outras skatistas americanas. Nessa época, eu comprei meu primeiro shape com o Sérgio Negão na Wave Cat, e ali conheci vários skatistas locais como o Tocha (RIP), que me apresentou aos sons de punk rock, o Cacio Narina e Jorge Kuge. Claro, observava a galera local de longe: Toshiro, Gne, Padado, Douglas Aranha, George Rotatori e Tio Liba. E às vezes chegava a galera de São Paulo em um Maverick, os meninos de calça xadrez cheios de atitudes. Bem, para uma garotinha de 12 anos, punk rock e skate eram o caminho ideal. Nessa época eu questionava os meninos sobre outras garotas e outras pistas, eles me contaram sobre a Wave Park e sobre a Franete, pistas em São Paulo que não cheguei a conhecer, mas as únicas garotas que vi que já andavam, sem ser minha amiga Ligia Silva, eram a Yltha Fernanda Martins Prado e a Denise Siqueira. Uns seis meses após descobrir esse mundo novo, a Wave Cat fecha as portas e meu lugar de finais de semana passa a ser a pista de SBCampo.

Companheiros de pista em SBCampo eram os locais, tipo Carlos Alberto Sabino, Steve, Joe, Narina, Giba, Alvaro, Zoio, Ed (RIP) - irmão da Graça Cunha... Alguma vez sofri alguma discriminação? NÃO! Em 83, no II Campeonato Brasileiro de Guaratinguetá, foi a última vez que encontrei com a Denise Siqueira e a Yltha Fernanda Martins Prado. Formamos uma bateria de 4 (Eu, Ligia, Denise e Yltha) e participamos do evento, os meninos adrenalizados pela disputa, a plateia a mil e as corajosas teriam que enfrentar tudo isso sem conhecer o bowl, sem treino, só coragem e atitude. Quer saber? Foi bem legal, todos apoiaram mesmo com o pouco de skate que tínhamos.

Monica Polistchuk 1982 pista SBCampo

Galera na churrascaria em Pelotas RS

A partir desse evento, passei a seguir o Negão em seus percursos e durante dois anos não conheci nenhuma outra garota. Do campeonato de Jundiaí, na inauguração do bowl de Brasília até uma demo na pista mais distante no fim do sul do Brasil (Pelotas), foram dois anos de half pipes de maderite e bowls ásperos e imperfeitos, restos de equipamentos e raras peças de skate, mas o amor pelo skate estava ali; 48 horas de viagem num ônibus só para dar um rolê de skate com a galera do Sul e valeu muito. Skatista é um tipo só, não importa o lugar do mundo, é uma vibração que nos une; mudam o idioma, a cultura, mas o skatista é sempre skatista.

Eu sei que nós mulheres estamos constantemente numa luta por igualdade, mas no meu caminho do skate feminino sempre tive parceiros. Na Páscoa de 84, vendi muitos ovos de Páscoa e com essa grana fui ao Rio, onde fui muito bem recebida pelo Guto Jimenez, que me levou aos picos do Rio e a pista de Campo Grande, onde conheci o Robertinho o Rubinho e dropei aquele bowlzão, que quem conhece sabe do que estou falando. Por dois anos, percorri as pistas e corri campeonatos de igual com os garotos amadores e sempre fui muito bem tratada. Infelizmente dividimos espaços e situações com pessoas ignorantes, mas são em todas as áreas, níveis e países. A minha visão da cena do skate sempre foi um espaço aberto para expressão, criatividade e atitudes positivas sem distinção de raça ou sexo.

Halfpipe de maderite em Florianopolis

IV Campeonato Brasileiro do Itaguara 1985-foto Petronio Vilela

De campeonato em Geribá (Búzios, RJ) e campeonatos no half em Florianópolis, até consecutivos finais de semana no half do Trianon ou bowl de Guaratinguetá: assim era a cena entre 82 e 84, estávamos falando de skate feminino – ok, não conheci nenhuma até 84. De 84 para frente, comecei ir mais a Florianópolis onde a Lela e a Rose também abraçavam o skate com paixão. Nessa época não era qualquer pessoa que escolhia o skate, eram poucas, mas a paixão era nítida. Foi em Florianópolis o primeiro evento de half pipe feminino, as garotas chegavam cedo e eram as últimas a sair, ajudavam na organização e estavam sempre a disposição de ajudar. Lá conheci o Girão, o Marcos Kabeça e o Pescoço, galera sempre dando uma força para o skate feminino. E falando de Sul têm também o Mendonça, Julio e o Shaun, pessoas dispostas sempre pelo skate. Vocês já ouviram falar de fanzines? Então, nessa época era assim que circulavam as skate news e cultura da galera para a galera.

Fanzines n*4 Monica Polistchuk-foto Diorandi Nagao

Em 84 no III Campeonato Brasileiro do Itaguara tambem participei do bowl amador com os garotos.

Em 85 apareceu a Aninha do Rio de Janeiro, ela praticava freestyle e era muito show vê-la em ação. Montei um skate de freestyle, pois queria muito fazer algo com mais garotas ou mesmo como forma de incentivo à Aninha, e no IV Campeonato de Guaratinguetá, a Aninha e eu nos inscrevemos no freestyle amador. Nesse mesmo evento corri no banks e no bowl amador também... pois é, fiz um overall.

Aninha e Monica no Campeonato brasileiro em 1985

1*Campeonato Brasileiro de Street Skate Santos 1986

Em 85 começou um movimento street bem forte no Ibirapuera; não sei se estou certa, mas eu senti que alguns dos garotos que praticavam freestyle no local se dividiram em street, longboard e freestyle. Foi no campeonato do Levi, em 86, que vi o longboard pela primeira vez com o Wagner Bê, e depois o Pastel apareceu em SBCampo de Longboard também, e aos poucos percebo que haviam outras opções.
Em 1986 começa a Revista Yeah! A primeira revista especializada de skate com um espaço para o skate feminino onde a Cecilia faz uma entrevista com Monica no Vert e com a Aninha no freestyle. A Cecilia era carinhosamente chamada de Måe por toda a galera pois ela estava sempre disposta a ajudar a todos, foi a pessoa mais skatista sem skate no pe que eu ja conheci, e a primeira mulher a escrever sobre skate ,desde a Yeah!,Overall, Tribo, Trip College , no programa Skate Paradise,na Venice ,no A Onda Dura e outros free lances , estamos falando de uma garota na epoca trabalhando para um universo masculino, sem problemas. Nesse momento com o aumento do street, a cena em SP ficou forte e apareceram novas garotas interessadas pelo skate, nesse caso no street skate: a Leni, a Meire e a Larissa. Uau, três garotas! Assim começa o primeiro ano com categoria feminina nos primeiros campeonatos de street skate no Brasil. Depois de um ano de eventos,em 87 o Itaguará promove o V Campeonato de Skate Brasileiro, dessa vez com a categoria feminina na modalidade street. Foi um evento bem legal e foi filmado para que possamos relembrar, no qual eu continuo correndo amador banks e bowl com os garotos.

Nesse campeonato o prêmio para profissional banks e bowl era uma passagem para USA e, no ano anterior, já havíamos tido um grupo de skatistas indo para um evento no Canadá, e essa situação fez com que, logo após o evento do Itaguará, formaram outro grupo para ir para Los Angeles e foi nesse que eu fui.

Campeonato de Street no Colegio Levi SP

Já havíamos tido a visita do Tony Alva, Dave Duncan, Cristian Hosoi, e a galera queria muito ir para Califórnia, quem não queria? Nessa época eram raras as pessoas com patrocínio, o único patrocínio que consegui com salário e ajuda foram dois meses com a Nativas e três meses com a OP; fora isso, a Urgh sempre apoiava com material e inscrições, também tive apoio da Mustabi e Phillipines com confecção e, como todo skatista, meu sonho era viver do skate; comprei uma moto e fui trabalhar com skate, vender e entregar Urgh, depois Lifestyle, Metal Crazy, Brand X. Para levantar o dinheiro para a viagem, abri o meu guarda roupa e vendi tudo que tinha de roupas usadas, coleção de bonecas, mochila e, claro, o skate; mesmo assim, não seria suficiente pois nessa época existia um imposto de 25 por cento em cima da passagem e dólares. Corri atrás de patrocínio, ganhei 10 pares de tênis da Skinhead e 100 dólares da WT (Ricardo Widmanski - RIP); estava óbvio que a galera estava simplesmente me dando uma força e assim paguei a passagem e embarquei com 400 dólares no bolso. Fiquei em Venice por um ano, mas nesse período o skate estava em baixa e eu achando que lá conheceria um monte de garotas skatistas... não mesmo, não em 87. Conheci uma de freestyle e uma de street, eu e uma estudante japonesa que era street também. Logo que voltei, teve o Grand Prêmio de Street Skate no Corinthians com a categoria Feminina, fiquei bem feliz pois éramos seis garotas! Mas logo a realidade bate na porta: vou fazer 20 anos e não dá para viver de skate. O que acontece, você continua curtindo skate, mas o trabalho passa à frente dele e skate fica para os seus possíveis momentos. Dos meus 22 aos 29, tive um casamento e três filhos, nunca imaginei que iria conseguir pisar em um skate novamente, mas só até decidir em montar um e voltar. Isso foi a maior felicidade que dei a mim mesma!

Monica Polistchuk na Capa da Check it out

Em 1998, conheci a Liza Araújo e a Ana Paula Negrão na pista de São Bernardo do Campo e achei o máximo o movimento de skate feminino que elas estavam armando, com fanzine Check It Out e organizando os campeonatos para meninas. Que demais que movimento de skate feminino! Foi uma surpresa maravilhosa e que hoje se vê o resultado desse empenho. Não tenho dúvida que o resultado do street feminino é um reflexo do esforço dessas garotas e de várias que seguindo o exemplo se empenham em fortalecer as novas gerações de garotas.Nesse momento, eu morava perto da pista de SBCampo então voltei a treinar lá no banks e no half da Tent Beach . Conheci a Tati Marques na pista de SBC e resolvemos ir ao campeonato de street em Santos que as meninas haviam organizado, fiquei super feliz em ver a quantidade de garotas e o nível. Uau, alguém viu a Adelita Monteiro naquele evento! Uau, demais, que felicidade assistir aquilo de perto - aliás, bem perto, pois corri o campeonato também, lógico queria estar junto fazer parte de algo que demorou, mas chegou. Nessa época tivemos alguns campeonatos mundiais em São Paulo e um em SBCampo todos com halfpipe e área de street, em todos campeonatos me permitiam dar uns roles no half como demonstração mesmo junto com os profissionais e gringos pelo fato de não haver outra garota que fizesse vertical. De 2000 em diante também participei de demonstrações de vertical com o half pipe da Red Bull no Museu do Ipiranga e no Vale do Anhangabaú.

Foi um período muito especial para mim, eu já estava com 32 anos, mãe de três filhos, nunca imaginei poder andar de skate novamente e de repente estou dropando no Vert, com os melhores do mundo, uma galera da nova geração, que não só me convidaram a participar, mas sempre me respeitaram. Se eu colocasse meu tail no coping, era a minha vez e nunca tive problemas com os garotos; muito pelo contrário, só força e incentivo, e super feliz em ver essas meninas surgindo nas competições de street. Era a época que a Karen Feitosa ganhava todas, uma pequena garota com sangue batendo nas veias. Mas o que ninguém sabia que as 2 horas que eu ficava dando os rolês nos half pipe eram o meu horário de almoço, como chef de cozinha, eu trabalhava até as 15:00 e retornava as 19:00, nesse intervalo era meu momento de skate. Quero dizer, é difícil sem patrocínio, e ainda hoje vejo muitas andando bem e se esforçando por conta própria, pelo fato de gostarem do skate e pronto. Acredito que foi em 2001, numa apresentação do half da Red Bull em SBCampo, conheci uma garota na época adolescente, de nome Karen Jonz, ela estava lá dando seu rolê no half e essa mesma garota virou a maior representante do vertical feminino brasileiro. Nessa época havia o half pipe da Billabong, outro lugar que eu frequentei muito aos finais de semana e encontrava muito com a Renata Paschini por lá, outra garota que hoje é uma mulher e anda muito bem no vertical, banks e é a presidente da AFSk. Em 2006, fui para Londres com meus filhos ficando por 12 anos e de lá, graças à internet, vejo garotas no downhill slide e longboard, mais campeonatos de street feminino e, finalmente, de park. Em 2018, no Brasil participei de um evento old school Vert In Roça na categoria Master, e agora temos Grand Master feminino. Hoje, com 52 anos, fico emocionada em ver que o nível do skate feminino só vai melhorar, o espaço está mais fácil do que nunca para qualquer garota ou mulher começar a andar de skate. O Brasil está bem representado em todas as modalidades e, mais importante, o sorriso no rosto dessas garotas e mulheres prova que skate feminino só vai crescer. Então let’s ride!

Renata Paschini

Eu comecei a andar de skate em 1986 com 14 anos, descendo ruas do meu bairro. Logo na sequência já fui pra pista de São Bernardo do Campo, só existia a pista velha e a galera local andando muito. Já me enturmei e era a única mulher em Campom, mas havia uma cena de skate feminino rolando em São Paulo. Em pouco tempo a pista de São Bernardo teve sua primeira reforma / ampliação e passou a contar com halfpipe , minirrampa, tribanks street, parede de wall ride, assim o movimento se intensificou. Mais garotas apareceram para andar de skate, campeonatos com a categoria feminina já existiam como o Circuito de São Bernardo do Campo (fiquei em primeiro lugar em uma etapa), o Gram Prix Brasileiro no Corinthians (fiquei em terceiro). Nessa época tinham a Mônica, a Leni, a garotas da equipe Anarquia, a Alessandra da Narina, a Mirinha da Mad Rats. Mas logo o país entrou em crise e tudo quebrou, inclusive o skate e a maioria das meninas pararam de andar, a Mônica e a Leni saíram do Brasil. Eu sempre andei e continuei andando em Campom, as outras pistas eram muito longe de São Bernardo e de transporte público demorava muito para chegar. Eu sofri muito na infância e adolescência com preconceito e discriminação (pela minha cor de pele, por ser mulher, por ter sido abandonada pelos pais, criada pelos avós, agregada pelos tios), e gostar de um skate para a família e a sociedade na época era inaceitável. Minha família é incrível, meu pilar, mas me controlavam absurdamente: nada de namorado, nada de balada, nada de sair de casa sem um motivo, nada de skate. Mas ficar sem skate era impossível! A família permitiu, sempre com muito controle e desde que estudasse, fosse bem na escola e não se machucasse! O skate era minha salvação, minha paixão, minha válvula de explosão para toda emoção presa dentro de uma adolescente cheia de força. No final dos anos 90 a economia do país voltou a crescer e o mercado do skate aqueceu, fortalecendo as marcas, ressurgindo os campeonatos e patrocínios, novas mulheres começaram a andar e se destacar. Nos Estados Unidos já começam a surgir as primeiras skatistas profissionais. Em São Bernardo agora nós tínhamos a Adelita Garrido, a Tatiane Marques. Eu entrei na faculdade e comecei andar só de final de semana. Parei de competir mas sempre prestigiei os eventos femininos. Com essas mulheres começaram a surgir também os primeiros movimentos de organização de skate feminino, com a Lisa Araújo, Ana Paula Negrão, Luciana Toledo com a Check It Out e construção do Ranking Brasileiro. Depois com a Tati Marques tivemos a Associação Brasileira de Skate Feminino. Mais uma vez o mercado do Brasil quebrou, a maioria dessas mulheres foram embora do Brasil e o skate feminino teve uma queda novamente, muitas delas pararam de andar. Nesse momento o skate também estava marginalizado, pistas sendo destruídas, Campom cheia de bandidos, eu passei a frequentar outra pista, a Billabong (skate house), única mulher sempre com meus amigos e agora migrando para o vertical

Com a economia voltando a melhorar, o mercado do skate volta a impulsionar o esporte e uma nova geração de meninas começou a surgir, com nível das americanas, e também o site Skate para Menina realizando um trabalho super profissional para o crescimento do skate feminino, onde eu era juíza nos campeonatos. O skate feminino começou seu crescimento em número de praticantes, nível de skate das meninas, em todas as pistas eu já via muito mais mulheres andando e os principais nomes do Brasil estavam em carreira internacional. São Bernardo do Campo fechou para reforma por 4 anos, eu estava no vertical e voltei a ser a única mulher. Com a reabertura de São Bernardo e a fundação da AFSK, muitas ações foram realizadas para aumentar o número de mulheres. Estas ações somadas ao resultado positivo das brasileiras nos mundiais e a inclusão do skate nos jogos olímpicos, foi uma explosão de mulheres e menininhas andando e destruindo!! Vi isso nos EUA em 2013 no Exposure, várias garotinhas de saia tutu andando muito! E agora vejo no Brasil também, em 5 ou 6 anos tínhamos zero meninas e agora temos muitas! No início eu e meus amigos sonhávamos que um dia o skate do Brasil estaria do mesmo nível dos gringos. E hoje superamos, e no feminino também.

Quando comecei a andar de skate não tinha internet. A divulgação do skate era feita em Zines, depois em revistas, e sempre com pouca participação de skatistas mulheres. A chegada da internet também ajudou o crescimento do skate feminino, com os sites e as redes sociais, as mulheres começaram com seus trabalhos autorais e entraram nas mídias para promover a mulher skatista. Com a internet também vi a formação de crews, grupos de meninas que se unem pra mostrar seu skate nas redes sociais. Sou muito grata por acompanhar toda essa evolução do skate feminino, não só como expectadora, mas andando muito também.

Karen Jonz

Ivan Shupikov

Eu comecei a andar de skate em dezembro de 99 pra 2000. No natal pra ser mais precisamente. Fui conhecendo as meninas aos poucos, porque era raro. A maioria andava street. Patiane, Karen Feitosa, Monica, Marta, Larissa… Nessa época rolavam alguns campeonatos street com feminino e existia essa cena SP, parana, Rio, brasilia, Goiânia. Dava pra contar nos dedos as meninas que andavam (eu literalmente catalogava no extinto Garotas no Comando). A maioria eram meninas por volta dos 17, 18 anos, (sem contar a geração anterior, muitas já moravam fora e estavam até fazendo outros corres- conheci a Lisa e a Check it out, totalmente produzida pelas próprias garotas. E Monica andando no Vert.)

Os campeonatos tinham uma estrutura péssima, premiação inadequada então acabávamos nos organizando pra fazer nossos próprios eventos. Encontros, campeonatos, videos. Organizamos um campeonato na onboard que foi uma grande reunião depois de muito tempo e vieram meninas de todo o Brasil. Foi muito legal pra termos uma dimensão de quantas éramos, de como estávamos andando. Não tinha foto de mina saindo nas revistas, nem manobra filmada em video. Depois de um tempo teve a Patiane da capa da tribo, sendo a primeira mina dando manobra. Depois a Eliana na 100%, eu na Tribo, Leticia… e assim foi abrindo cada vez mais.

Eu comecei a andar mais no vert e fui viajar pra competir porque aqui no brasil não tinha nada rolando. Acabei ganhando os mundiais, X games. Muitas das minhas amigas se machucaram, algumas pararam de andar, tiveram que trabalhar. Enquanto isso algumas começavam a aprender a andar. Eu sinto que foi uma época latente pro skate feminino. Os eventos do skate para meninas, que reunia e foi berço de tantos talentos. Todo mundo com muita raça tentando organizar, fazer o corre, sobreviver. Ninguém tinha patrocínio grande. A gente tinha era q pagar pra andar.

Eu acho que as minas dessa geração foram muito resilientes. Foi uma geração do meio, que não sofreu os desafios físicos maiores da anterior, e não colheu frutos como a atual. Foi um momento de muito trabalho, como se as coisas tivessem já sido começadas, plantadas e precisassem ser cuidadas ali no dia dia. Ter sido uma skatista nos anos 2000 foi genial pra mim. Era olhada com estranhamento, desconfiança.. o que era horrível e legal ao mesmo tempo. Mas era novo, desconhecido, desafiador, criativo. Tinha tudo pra ser criado, nada tava pronto. O que era super desafiador pois seria muito mais tranquilo e fácil ter um caminho, uma direção pra seguir, uma coisa pra se agarrar. Mas a gente não tinha. Não sabia o que ia acontecer e realmente só dependia de nos mesmas, em cada decisão, cada escolha. Não tinha um modelo… e isso era muito louco. Foi uma época de marcos e conquistas pra sempre pro skate feminino. As capas das meninas, a inclusão do feminino em vários eventos, a igualdade da premiação entre homens e mulheres nos x games, as brasileiras se destacando internacionalmente, os eventos exclusivamente femininos.

Christie Aleixo

Cara Metade_foto Raphael Kumbrevicius

Me chamo Christie Aleixo. Sou skatista, natural do Rio de Janeiro, nascida em 77. Sou das ladeiras, pratico o skate downhill. Na ladeira desenvolvi todas as oportunidades que tive no movimento do skate. Desde 97, frequento as ladeiras. Iniciei no meu bairro Grajaú, quando conheci o longboard. Apesar do skate sempre estar presente nas brincadeiras do prédio, desde pequena, foi sempre como brinquedo. Meu irmão chegou a vivenciar um pouco o skate nos anos 90. Mas sempre foi um assunto distante de mim. Mas em um piscar de olhos, o long que era um transporte, já estava descendo a estrada das Paineiras. Depois a Vista Chinesa. Até que no início dos anos 2000, conheci o João Bily, skatista de DHSlide de SP, que me apresentou o universo do asfalto em uma viagem para lá. E a partir dessa trip, defini modalidade, passei andar de long (onde se tinha concentração de mulheres) e em 2003, comecei a participar dos eventos que já possuíam categoria feminina. A partir dai, estive presente em praticamente todos os eventos oficiais nos anos seguintes. Inclusive, organizando champ de ladeira e street, encontros femininos de ladeira e street, escrevendo para colunas especializadas em revistas e sites, praticando todas as possibilidades de skate na ladeira, como slide, long, slalom e speed.

O speed, sempre esteve presente, todo o movimento do Rio era voltado a esta modalidade. Mas eu só aderi ao mesmo, em 2006. Em um evento que ocorreu na Vista Chinesa, sendo uma etapa do circuito mundial da IGSA. Fui a única mulher a participar deste evento. E segui os anos seguintes frequentando alguns outros no país. Em 2011, diante a cena e meus trabalhos como competidora. Decidi entrar com meu pedido de profissionalização. Eu cumpria todos os requisitos necessários e acreditava que mesmo “sozinha”, eu estaria puxando outras mulheres a seguirem este caminho. Me tornei a primeira skatista profissional brasileira.

Revista Tribo Skate - 2004 -Christie Aleixo-Camila Vasconcelos-Laura Alli

Ladeira da Morte 2010 - Ressureiçåo F/S Tail slide 180*- foto Joåo Paulo Murabah

Atuando no mercado do skate, trabalhei por mais de 10 anos em algumas marcas e distribuidoras nacionais e como skatista me relacionei com outras marcas brasileiras e gringas. Em um momento, próximo aos meus 35 anos. Percebi a necessidade de finalizar essa caminhada competitiva. Que apesar de ser uma vivência magnifica e enriquecedoras, requeria uma organização de captação de recurso significante. No meu caso, a principal fonte, era pública, que exigia por completo o foco em resultados. Essa condição me possibilitou a vivência nos eventos de speed, mas tudo na vida tem um prazo, e 2 anos antes, resolvi que em 2013, encerraria este capítulo, o que aconteceu. Neste mesmo ano, em uma etapa do Brasileiro, no mês de setembro, sofri um grave acidente competindo. O que definiu meu afastamento, obrigatório da prática, incluindo a forfun. E depois de 2 anos em tratamento, aos poucos, fui retornando ao skate, mas já totalmente fora dos circuitos, apenas na essência livre da prática.

Recentemente, junto a minha família, inauguramos um espaço de vivência, dentro deste estilo de vida. Um ambiente composto com pousada(@choupanas_), pista de skate(@sun7skatepark), atividades que promovem o bem estar e saúde, como yoga, caminhadas em trilha, aulas na pista e um atelier de cerâmica, onde existem oficinas e espaço compartilhado (@bomdropatelier).

Podio Snake Skeleton 2012 Rebecca - Georgia Bontorin - Christie Aleixo

Podio Chile - Slide Fuego - 2012 Cris Punk - Christie Aleixo - Laura Alli

A cena da ladeira é grandiosa. Porém, muito precária em estabelecer calendários anuais. O que causa uma baixa significante até para se atingir simpatizantes. Sempre deixando com menos atenção essa fatia do bolo skateboard. Se falando de feminino, os números ainda são bem menores e com pouca exposição. No ano de 2020, curiosamente com a pandemia que vivemos, uma série de debates e grupos dentre as modalidades, foram criados. Se estabelecendo como conselhos femininos, junto a entidade máxima do esporte a CBSK. Onde percebemos o interesse das mulheres nos diversos assuntos de gestão do esporte skate. Fazendo se compreender a necessidade em participar mais dos bastidores, promover ações que fortaleçam suas modalidades, buscar aumentar o número de praticantes, enfim. Tudo que venha fomentar, informar e unir o skate brasileiro praticado por mulheres. Tenho que certeza que o resultado daqui a alguns anos, será incrível. Onde muitos trabalhos surgirão e mais mulheres estarão aptas a atuarem diretamente na execução dessas funções. Por mais mulheres vivendo o skateboard. BOMDROP! eternamente

Melissa Brogni

Sou a Melissa Brogni, tenho 21 anos, nasci e moro em Novo Hamburgo/RS. Sou skatista profissional de downhill speed, pentacampeã sul americana, bicampeã mundial e a atual campeã brasileira na modalidade. Meu primeiro contato com as rodinhas foi aos 4 anos, um skate de plástico, que implorei muito pra minha mãe comprar depois de ver meu amigo andando com um. Mas a história só ficou mais séria no final de 2012 quando descobri o downhill através de vídeos na internet. Eu cheguei nesse cenário junto com uma geração que também estava iniciando na modalidade, e por conta disso tinham muitos eventos e campeonatos movimentando a cena. Nessa época já existia a categoria feminina em competições, o que é um fruto colhido pelas skatistas ativas de hoje, mas que foi plantado lá atrás pela geração passada de mulheres. Eu só fui andar de skate com outra menina, direto no meu primeiro campeonato. A presença delas na ladeira por volta de 2013 estava começando a crescer, eu sabia que existiam outras, porque tinham videos de um grupo delas praticando na cidade de Curitiba. Mas dificilmente encontrei outras meninas na ladeira só para praticar. Nessa época os campeonatos brasileiros chegavam a ter 6 meninas, mas raramente passava disso.

Fotógrafo Gerson Ceschini

Fotógrafo Timóteo Flores

Com o passar dos anos fui crescendo dentro dessas competições, comecei a viajar pra ir nos eventos, fui campeã mundial e sul americana aos 15 anos, com pouco tempo de skate, isso me incentivou bastante, os jornais locais e revista de longboard daquele tempo estavam sempre publicando uma coisa ou outra sobre minhas colocações e era instigante continuar fazendo isso. Indo pra fora do país cheguei a competir com outras 25 meninas, só confirmando que o espírito competitivo estava no sangue, isso me levou a poder andar com todas as minhas ídolas da época, evolui muito rápido. Hoje muitas meninas se afastaram da modalidade, algumas por conta dos riscos, outras por desinteresse mesmo, eu continuei andando e me tornei profissional em 2017. Mas aos poucos fui vendo que no downhill faltava uma coisa importante pra trazer o crescimento dessa modalidade: a união dessas poucas meninas já existentes. Sempre enfrentamos os mesmo problemas de desigualdade nos campeonatos, e alguma coisa precisava ser feita pra isso mudar.

No início do ano de 2020 algo inesperado aconteceu pra todas nós, um workshop para mulheres do downhill, o “DazMina” foi organizado por mulheres e também a primeira vez que tivemos um evento feminino, totalmente voltado pra nós. Foi um marco pra todas, uma maneira de ativar a chama do skate nas que estavam afastadas e trazer o entendimento de que só juntas é que vamos poder trabalhar em prol da modalidade, com menos individualismo, que as competições nos acostumaram a ter. Esse vai ser um desafio, mas que a pandemia fez a gente começar a colocar em prática. Muitos projetos vêm sendo desenvolvidos, muitas meninas querem voltar pro downhill e principalmente participar da próxima edição deste workshop. É visível como a força feminina é grande quando estamos juntas. Já somos muitas, apenas não somo vistas, tenho esperança que os movimentos que estão sendo organizados pelas skatistas Brasil afora vão alavancar nossa visibilidade e nos próximos anos teremos uma crescente no downhill, assim como nas outras modalidades.

Badel

foto @2clicks_fotografia

Sou a Débora Oliveira "BADEL" skatista profissional. Tenho 30 anos de idade e 15 anos de skate. Comecei a andar em 2004 quando inaugurou a antiga pista de skate na imigrantes/Jabaquara zona sul de São Paulo. Comecei a fazer aulas de skate com o professor Douglinhas, profissional de longboard. Eu e mais 3 amigas, a Jessica, Dayana, e a Carol, infelizmente elas pararam de andar depois de algum tempo por falta de incentivo familiar e devido à muito preconceito que o skate feminino sofria na época (e ainda sofre). Éramos taxadas de sapatonas, Maria machos, Maria rolamentos, tínhamos que ficar provando o tempo inteiro que éramos capazes (não que hoje seje diferente).

A primeira mulher que vi andando de skate foi a Ligiane Antunes a "xuxa" que hoje é profissional tbm e reside em Barcelona. Consequente nos tornamos grandes amigas e hoje ela é a minha principal referência no skate feminino, pelo estilo de skate de rua e pela pessoa que ela se tornou. A Xuxa teve seu primeiro promodel pela "Ame skate" marca da nossa queridíssima Tati Marques. Sou a primeira mulher negra a se profissinalizar aqui no Brasil, me profissionalizei em 2019 e foi bem complicado conseguir esse feito perante a tanta falta de oportunidade de marcas e mídias do skate que na maioria das vezes escolhem suas representantes por beleza e seguidores e não pela essência do skate. Triste... Me profissionalizei pela "Melância skategirl " marca da minha grande amiga Karmel e sigo na luta pra conseguir viver do skate.

@anairamdeleon

@2clicks_fotografia

Tive meu primeiro promodel agora em 2020 pela Monk skate e fiquei muito feliz pq já saiu o segundo promodel na mesma semana...e já estamos produzindo o terceiro. Minha geração veio um pouco depois da Karen jonz e já havia algumas mulheres na pista mais eram poucas..negras então..bem difícil. Hoje contínuo na resiliência como profissional feminino do skate pra quebrar essa barreira e mostrar que estamos capacitadas o tempo todo. O que falta é incluir , falta oportunidades reais ainda pra que possamos de verdade conseguir viver do skate que é minha profissão. Faço todo esse corre pra mim e para as próximas gerações, pra que tenham novas profissionais negras na lista junto comigo nos próximos anos.

@anairamdeleon

Yndi

Ivan Shupikov

Minha história com skate começou na minha infância, por volta de 2003, quando meu pai me deu um skate de natal nos meus 6/7 anos. Dali pra frente, skate sempre fez parte minha vida, a princípio de uma forma mais sutil, fosse brincando na garagem de casa, na rua com amigos, ou sendo uma das únicas meninas da minha escola que se interessava e conseguia subir num skate.

Até que quando eu tinha 14/15 anos, meu professor de E.D.F me convidou para inauguração de uma pista particular... Lembro de ficar na dúvida se iria ou não, pois não conhecia ninguém e provável que só teriam meninos. Mas eu decidi ir, e essa foi uma das melhores decisões que eu fiz na vida! Nesse dia eu aprendi a dropar, algo que eu tinha muito medo e parecia impossível até então. E foi justamente essa sensação de superação, de conseguir, de empoderamento, que me fez querer ir andar de skate todos os outros dias a partir dali. Ah e sim, só tinham meninos naquele dia. Refletindo agora, acredito que atitude e coragem, falam muito sobre as mulheres skatistas. Atitude pra ir, pra dar as caras, “se meter” num território em geral era dominado por homens, e coragem, pra superar seus próprios medos e provar que é capaz.

A felicidade que eu tinha e tenho até hoje quando ando de skate não me deixava dar atenção a qualquer julgamento ou preconceito que pudesse existir. Estava muito focada na minha diversão com o skate. Uma das primeiras meninas que passei a acompanhar foi a Emily Antunes, da minha cidade e que já andava muito bem de transição. Ela era tipo o auge pra mim. Depois comecei a andar com uma amiga da minha escola que já andava e me introduziu na Hi adventure. Lá tinha uma cena bem legal de meninas fazendo escolhinha, cerca de 10 meninas. Mas eu acabava andando mais com os meninos, estávamos na mesma pegada, viciados no skate. Sempre amei praticar esportes e me esforçar pra dar o melhor de mim, na escola, ficava na expectativa que faltasse alguem no time masculino pra que eu pudesse substituir e jogar futsal com os meninos. Acho que lá no fundo eu sempre quis mostrar que as meninas conseguem fazer o que os meninos fazem tão bem quanto eles. Bom, aí eu passei a competir o circuito brasileiro de Bowl e conhecer meninas do brasil todo, como a Bia sodré, Karen Jonz (com toda sua história e conquistas inspiradoras), e também minhas melhores amigas até hoje, Isadora Pacheco e Dora Varella. Nós três tivemos a oportunidade de gravar um programa pro canal off em 2016, “Partiu Skate”, filmando nossa primeira viagem pra Califórnia. Esse programa deu bastante repercussão pra galera mais de fora do mundo do skate, por sermos meninas, jovens, andando de skate e mostrando nosso dia a dia.

Nessa viagem, também conheci a cena do skate feminino internacional. Eram as nossas ídolas, que só víamos em vídeos e revistas, assistir elas ao vivo e andar junto foi incrível. Bom, aí fui cada vez mais entrando na cenário mundial, sendo convidada pra participar de eventos fora do Brasil, e em vários desses, era a estreia da categoria feminina, como o “La Kantera” na Espanha, “Red Bull Bowl Rippers”, Vans Park Series... 2018 foi bem marcante. No começo do ano fui convidada a participar da primeira skatetour só de meninas realizada pela Thrasher nos EUA. Foi uma experiência foda, vivendo o verdadeiro lifestyle do skate. Logo em seguida, rolou um evento em Itajai, OI Park Jam, que teve transmissão na globo. Eu e meu amigo Pedro Barros vencemos e tiraram uma foto nossa com os cheques. Essa foto acabou tendo uma repercussão gigantesca. Muita gente de fora do skate passou a questionar a diferença da premiação. Nós dois vencemos o campeonato, no entanto o cheque dele era de R$17.000, enquanto o meu era de R$5.000. Isso gerou uma polêmica enorme e revolucionou a igualdade de premiação. A partir daí todos os eventos passaram a igualar a premiação. Feliz em ter feito parte desse momento e ver as coisas mudarem pra melhor! Nesse mesmo ano entrei para a Vans como a primeira mulher skatista profissional da marca no Brasil.

Cada vez mais a cena do skate feminino vem crescendo. Mais ainda com a entrada do skate nas Olimpíadas. Fico impressionada com a nova geração de meninas pequenas andando de skate, parece que vieram com a mente sem qualquer limitação, elas acreditam que são capazes de realizarem o que quiserem, e realmente são! Mesmo eu sendo skatista profissional e já tendo realizado vários dos meus sonhos, quando vejo essas meninas, percebo que mesmo inconscientemente eu já me limitei por achar que algumas manobras só os meninos conseguiam. Me sinto animada e mais motivada ainda vendo essa nova geração sem limites, e por estar vivendo esse momento tão especial pro skate feminino.